O Presidente da República, João Lourenço embarcou hoje para a República de Cuba em visita oficial, onde, a partir de segunda-feira, efectua uma visita oficial de dois dias destinada a reforçar as relações de cooperação bilaterais, com a assinatura de vários acordos.
Neste momento de crise, que os angolanos atravessam, fruto das más políticas do regime do MPLA (o único que o país conheceu desde 1975), a deslocação ao país caribenho, tem todo o condão de ser mais partidário, fruto da longa relação entre os dois partidos no poder.
Se Angola, abandonou a opção socialista dando uma guinada para o liberalismo económico, transformando dirigentes proletários em proprietários vorazes e quase antropófagos, já Cuba mantem-se fiel ao socialismo, que causa o contínuo sofrimento dos cidadãos, em função do “barroquismo económico”. Pese os avanços na Educação e Saúde conquistas inegáveis, da política de Fidel Castro, o excessivo controlo e ausência de liberdades, inviabilizam mais ganhos a uma ilha que tem tudo para dar certo e conferir uma vida mais digna aos cidadãos, só através da indústria do turismo, se liberta das amarras opressoras.
Daí que, neste momento, Cuba tenha muito pouco a oferecer a Angola, salvo receber desta o montante financeiro indefinido, fruto das tropas expedicionárias (mercenárias) que se aliaram ao MPLA no conflito interno, contra a UNITA, esta, também, com ajuda de mercenários sul-africanos.
Hoje, quando João Lourenço se desloca a Cuba, com uma agenda mais político-partidário do que estatal, pode despertar um sentimento de retracção aos americanos, na projectada visita em Setembro.
A adopção da cartilha do Fundo Monetário Internacional tira João Lourenço da rota de um regime que opta por uma política de viés de “esquerda social de mercado”, colocando-se definitivamente no campo neoliberal, que esmaga os anseios dos cidadãos, face à cegueira de um programa económico, assente na aplicação de impostos, que maculam o desenvolvimento industrial.
Os angolanos esperam por resultados satisfatórios nesta visita oficial e oxalá eles possam surpreender, na positiva e não contribuir para o aumento do desemprego.
Segundo a nota da Casa Civil da Presidência da República angolana, João Lourenço, que é acompanhado pela primeira-dama, estão previstos encontros ao mais alto nível, nomeadamente com o homólogo cubano, Miguel Díaz-Canel, estando previsto, para o final de segunda-feira, a assinatura dos acordos de cooperação.
Em princípio, está prevista a assinatura de vários instrumentos de cooperação ligados aos sectores da educação e ensino superior, desenvolvimento dos recursos humanos, saúde, assistência e protecção social, habitação e cultura, devendo também ficar definida uma nova recalendarização da dívida de Angola a Cuba, cujo montante não é (obviamente) revelado.
Ainda na segunda-feira, as autoridades dos dois países rendem homenagem (como não poderia deixar de ser) ao primeiro Presidente angolano, António Agostinho Neto (1975/1979), no parque dos Heróis Africanos, em Havana.
De seguida, o chefe de Estado angolano deposita uma coroa de flores no Panteão, erguido no Cemitério de Colón, em Havana, em honra aos combatentes/mercenários cubanos falecidos em Angola ao serviço do MPLA.
No mesmo dia, João Lourenço dá uma conferência na Universidade de Havana (onde certamente mostrará todos os seus dotes poliglotas, mesmo que assassinado a nossa língua oficial – o português) e ainda visita o Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia, mundialmente conhecido pelas suas pesquisas avançadas em áreas de saúde, em especial nos trabalhos para a cura do cancro.
Já na terça-feira, João Lourenço visita a Zona Especial Portuária de Desenvolvimento de Mariel, em Havana, e terá um encontro com bolseiros angolanos.
A deslocação de João Lourenço a Cuba acontece 23 dias depois de, através do chefe da diplomacia angolana, Manuel Augusto, ter enviado uma carta ao Miguel Díaz-Canel, em que “enalteceu os laços históricos que unem os dois Estados”.
Em Abril, o vice-presidente do Conselho de Ministros da República de Cuba, Ricardo Cabrisas Ruiz, esteve em Angola, com o propósito de reforçar os laços de amizade e identificar novas áreas para cooperação.
Na visita, que incluiu a realização da 14ª sessão da Reunião Intergovernamental Angola/Cuba, os dois países, à procura de diversificar a economia, manifestaram o desejo de inaugurar uma nova etapa na já longa relação bilateral, apostando no investimento mútuo empresarial.
A tradicional cooperação bilateral tem sido praticamente igual desde 1976, ano em que foi assinado um acordo geral de cooperação em vários domínios, como o militar, defesa, segurança, saúde, educação, ensino superior, petróleos e indústria.
Os dois países defenderam na mesma ocasião a necessidade de se fazer um trabalho “conjunto e sistemático”, para que se tenha uma maior presença de empresas angolanas a operar em Cuba, em sectores de interesse mútuo, no quadro das projecções do desenvolvimento económico e social a curto, médio e longo prazos, e vice-versa.
Para tal, as duas partes sublinharam a necessidade de se ter em conta um “melhor e mais consistente acompanhamento da execução física e financeira dos acordos e dos contratos assinados” no passado, que serão reanalisados à luz dos novos desenvolvimentos políticos nos dois países.
O governante cubano disse ser desejo de Cuba colaborar com Angola nos distintos eixos do Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) 2018/22, sobretudo nas áreas da educação e ensino superior, desenvolvimento dos recursos humanos, saúde, assistência e protecção social, habitação e cultura.
Actualmente, dados da missão diplomática de Cuba em Luanda indicam que estão em Angola 2.077 colaboradores cubanos, que prestam serviço nos mais variados domínios.
Um amor entre o dono e o escravo
Recorde-se que o Presidente João Lourenço enviou no passado dia 1 de Janeiro uma mensagem de felicitações ao homólogo de Cuba, Miguel Mario Díaz-Canel Bermúdez, por ocasião do 60º aniversário do triunfo da revolução cubana, manifestando disponibilidade para reforçar a cooperação bilateral “com vantagens recíprocas reais”.
É bom ter memória, mesmo quando esta reverência cheira a servilismo perante quem ajudou o MPLA a matar muitos e muitos angolanos (relembremos o 27 de Maio de 1977) e perante quem Angola (mais exactamente o MPLA) ainda tem muitas dívidas.
João Lourenço realçou a Miguel Bermúdez que Angola atribui “a mais alta importância às relações multifacetadas que mantém com a República de Cuba”. “Angola pretende continuar a partilhar interesses com a nação cubana com vista a promover a paz e o desenvolvimento nos nossos respectivos países, assim como a nível global”, disse o Presidente.
Promover a paz “nos nossos respectivos países”? Era mesmo isso que João Lourenço queria dizer? Estamos a falar de que paz? Da paz dos milhares de mortos do 27 de Maio de 1977, cujo massacre teve a decisiva acção dos cubanos?
“O Executivo angolano está empenhado em explorar todas as vias que conduzam ao aprofundamento das relações bilaterais entre Angola e Cuba e, neste sentido, vai continuar a desenvolver esforços para, conjuntamente com o vosso país, criar um quadro de cooperação bilateral com vantagens recíprocas reais”, acrescentou.
“É-me grato constatar que o povo cubano, pelos seus actos e pela sua entrega à concretização dos grandes objectivos do vosso país, busca continuamente dignificar e honrar a memória dos heróis de Cuba, que consentiram enormes sacrifícios em prol da justiça e da liberdade do seu País e a dos Povos de todo o mundo”, sublinhou.
As relações bilaterais entre Angola e Cuba diversificaram-se em 1975 com a chegada de milhares de soldados cubanos para ajudar as FAPLA, depois de quase uma década de apoio militar cubano durante a luta pela independência angolana (1961/74).
À luz da ajuda militar por parte dos internacionalistas (mercenários) cubanos, as relações bilaterais entre o MPLA (cujo poder conquistou graças à decisiva ajuda bélica dos cubanos) e Cuba transformaram-se, paralelamente, numa cooperação em vários domínios, quase sempre com a subserviência do regime angolano.
Apesar do abrandamento registado entre 1991 e 2002, as relações diplomáticas entre o MPLA (como único partido no poder desde 1975) e Cuba mantêm a mesma vitalidade desde que foram estabelecidas, a 15 de Novembro de 1975, dai serem consideradas magníficas e de irmandade.
O chefe de departamento para as relações internacionais do Partido Comunista Cubano (PCC), José Ramón Cabrera, afirmou no passado dia 26 de Novembro de 2018, em Luanda, que a relação de cooperação existente entre o PCC e o MPLA mantém-se sólida e “permanentemente forte”. O recado, cujo principal princípio activo é manter a memória em bom nível, tinha um destinatário claro, o Presidente do MPLA (João Lourenço).
Relativamente à possibilidade de Cuba apoiar Angola no processo de repatriamento coercivo de capitais ilícitos transferidos para o exterior do país, José Ramón Cabrera considerou um assunto interno de Angola e desejou sorte ao governo angolano no alcance de tal objectivo.
Angola (o MPLA, melhor dizendo) e Cuba mantêm excelentes relações de amizade, solidariedade e de cooperação, que, tanto o MPLA e o seu Executivo como o PCC e o seu Governo, qualificam de respeito mútuo.
No dia 19 de Abril de 2018, João Lourenço felicitou o novo Presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, elogiando a “grande maturidade” na transição (no contexto de partido único e de ditadura, recorde-se) entre gerações naquele país, cujo Governo é um histórico aliado/patrão do MPLA, partido no poder em Angola desde 1975.
Na mensagem, divulgada pela Casa Civil do Presidente da República, João Lourenço refere que esta escolha constitui um “acontecimento transcendente na vida política cubana”, onde se processa com “grande maturidade e sabedoria a transição para uma nova geração de líderes”.
“Os angolanos têm uma rica história de amizade, cooperação e solidariedade recíproca com Cuba, a qual se deseja que se mantenha e se fortaleça sob sua liderança”, refere ainda a missiva do Presidente João Lourenço, enviada a Miguel Díaz-Canel. Quando diz “os angolanos” está – com visíveis laivos de segregação – a referir-se aos angolanos do… MPLA.
Na mensagem, volta a ser assinalado o agradecimento ao “Comandante Fidel Castro”, ao “Presidente Raul Castro e ao povo cubano no geral”, por terem “apoiado de forma incondicional Angola e os angolanos no momento mais trágico da sua história, quando a sua própria soberania e independência estavam ameaçadas”.
Aviltando a verdade e ofendendo todos aqueles angolanos que não são do MPLA, João Lourenço mostrava (como continua a mostrar) que o ADN do regime continua a ser o mesmo, definível na tese de que “Angola é o MPLA e o MPLA é Angola”.
Durante a primeira fase da guerra civil em Angola, logo após a proclamação da independência, a 11 de Novembro de 1975, milhares de militares cubanos (que chegaram ao nosso país bem antes) combateram ao lado das FAPLA (MPLA) contra a guerrilha da UNITA, então apoiada, até ao início da década de 1990, pelas forças sul-africanas.
Enquanto Angola se submeter ao regime ditatorial do Castrismo, o povo angolano jamais verá o desenvolvimento. E permanecerá no lodo do atrasadismo econômico e social. A Era do MPLA destruiu a esperança dos angolanos. Triste demais.